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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Primavera e o equilíbrio em movimento

É primavera.
Chegamos ao meio do ano astrológico, que teve inicio em 20 de março deste ano.
Embora tenhamos uma impressão de que algo retorna, num circuito perpétuo, é interessante saber que é mais preciso dizer que estamos numa oitava da última primavera...
Isso porque o sistema solar viaja em direção a estrela Vega a uns 20 km/s.... podemos assim visualizar que a órbita que a terra faz em torno do sol desenha uma helicoidal e não um circulo..
Embora possamos afirmar, por um lado, que nada se repete... também sabemos que há um ritmo incluso nessa viagem... por conta da relação da Terra com o Sol...
As duas coisas estão acontecendo...

É um bom momento para lembrar o que sugere o signo de Libra e o equinócio, ampliando nossa visão de mundo...
Há um extenso material sobre Libra... então prefiro contribuir com uma reflexão...

A palavra libra significa etimologicamente 'objeto que serve para pesar'... criando uma igualdade de forças que usamos como uma medida para vários fins.... e por aí vai...

[E é isso que quer, ao fim, nos fazer compreender os equinócios:  um momento onde a duração do dia é igual ao da noite.
No equinócio de outono - em março para o hemisfério sul - as noites ficam longas tendo seu máximo no solstício de inverno... dai começa a declinar até o equinócio da primavera - em setembro - onde a duração do dia e da noite voltam a ficar iguais... o dia fica mais longo que a noite até o seu máximo no solstício de verão onde começa a declinar até o equinócio de outono.
É como uma respiração, um ritmo cardíaco alternando continuamente em harmonia com o sistema solar... galáxia...]

Também a palavra libra aparece em equilíbrio.
‘Importamos’ essa palavra – e o que ela aponta - para comunicar algo que acontece dentro de nós... na psique ... nas emoções.... usamo-la, então, num sentido figurado...
Onde queremos apontar algo que se mantém constante, inalterado, moderado.
Moderação nas maneiras, gestos, palavras, sentimentos e, nesse comedimento, derivando para um sentido de harmonia e estabilidade mental e emocional.
Passamos, então, a buscar o equilíbrio... pelo controle, autocontrole e autodomínio. Surge o julgamento e o exercício de estar em conformidade com o que é direito.

A complexidade acontece quando buscamos encontrar ou determinar um ‘objeto’ que servirá de peso e medida para isso, como acontece no mundo físico.

Ao tentarmos igualar o que acontece no ‘mundo interno’ ao ‘mundo externo’ caímos num equívoco.
Equivoco não significa erro e sim algo que pode ter mais de um sentido.
Equivocamos quando só vemos um lado.
Estando, assim, incompletos.

O nosso equivoco está em querer ajustarmo-nos e aos outros num modelo totalmente material e mensurável.
A dinâmica interna possui outra natureza.
Sem peso, espaço e tempo como vemos na natureza.
Fizemos várias importações do mundo concreto para tatear o mundo interior, buscando transmiti-lo.
Por exemplo:  importamos o tempo cronológico criando um tempo psicológico.
Assim que, precisamos de ‘tempo’ para transformar uma emoção.

Enfim, é possível discorrer muito sobre isso.

Não cabe aqui ir tão longe e sim aproveitar a ocasião da primavera e do que sugere.

Havia festas para comemorar a passagem do inverno para a primavera... frutas... flores... danças e cantos... até o amanhecer, onde, atentos, esperavam pelo primeiro raio de sol... diziam que tinha uma cor diferente...
É uma parada em meio à jornada para celebrar o retorno da luz e compartilhar as novidades que somos agora, do que aprendemos durante as longas noites de inverno...
Ao compartilhar saberemos melhor sobre nosso envolvimento com os conceitos e valores...
Porque...
Surge um contraste...
Surge...
o OUTRO.

Libra lembra-nos disso, desse fundamento em nossas vidas: as relações, o companheirismo e dos contratos que já temos firmado ou por firmar.

Nesse dia podemos fortalecer nossa consciência sobre como estamos conduzindo nossas relações com tudo.
E assim ampliar na prática - que a relação oferece - a capacidade de irmos além de nós, exercendo o livre arbítrio e, por fim, ‘casar’ com as forças do ‘destino’.

A busca de proporção e de harmonia é uma inspiração que impulsiona-nos a inteireza, ao Amor.

Cada dia que se seguir até o solstício de verão – dezembro - teremos um pouco mais de luz. Da presença do sol. Iluminando-nos um tempo maior.
Mesmo assim, é sempre bom lembrar que o sol também nos impede de ver além. A luz dele nos ‘cega’ para o pano de fundo.

É...
O equilíbrio é muito mais um movimento em acordo com o momento, do que algo inalterado...

Talvez a constância que vemos nas leis da natureza queiram sugerir, entre tantas coisas, que podemos manifestar os nossos conteúdos com maior clareza e felicidade ao dar-nos conta de que há uma relação com tudo e todos... isso favorece à leveza do ser e estar ... como nas plantas... animais... nas estrelas...
Enfim, até onde podemos conceber sobre nossa origem, ao menos física, somos feitos de estrelas...
‘Algo’ existia em potência antes da grande explosão...

Compreendemos que ainda somos e estamos inexplicados ... e isso... abre uma brecha para um milagre:  o mistério é público e está diante de nós a todos instante...
Milagre por ser extraordinário manter-se assim diante de nós, público e sem intermediários...
O Equinócio é um desses momentos que existem de belo ... pela sua harmonia e proporção...
E a passagem do sol pelo signo de Libra inunda nosso planeta de  uma concordância harmônica: a confiança no outro é o complemento do confiar em si mesmo.

Na prática?
Bem, na prática da ‘teoria’ é o ‘outro’ que me mostra como posso fazer.
O lado ‘B’ de libra... sua ‘sombra’... acontece quando não há ação, exposição e fica, assim, aprisionado em idéias e no receio, por exemplo, do que os outros irão pensar... atuando superficialmente por necessitar agradar à todos e de não suportar o fato de que possa ser responsável pelo desequilíbrio de algo... Então, cria-se um mundo na mente esteticamente maravilhoso mas, sem a sabedoria de ‘provar’ desse mundo....
Assim, não estamos em contato com o outro...
Buscamos, por vezes, ‘controlá-los’ com normas em tons pastéis e com contratos sem comprometimento, sem participação efetiva... tudo isso para sua própria estabilidade.
Ficamos cegos, invejamos, não sabemos ainda como inspirar-nos com o sucesso do outro e nessa posição não enxergamos a ponte para o real...que bem poderia ser chamada de  comunhão.

Boa aventura !!!

Benter


Na próxima postagem seguem interpretações das inclinações que o céu sugere para os movimentos futuros.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Mapa do Equinócio de Outono de 2009

Por não estarem distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos,

a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca

e se vê

que por admiração se estava de boca entreaberta:

eles respiravam de antemão o ar que estava à frente,

e ter esta sede era a própria água deles.


Andavam por ruas e ruas falando e rindo,

falavam e riam

para dar matéria peso

à levíssima embriaguez

que era a alegria da sede deles.


Por causa de carros e pessoas,

às vezes eles se tocavam,

e ao toque –

a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras –

e ao toque brilhava o brilho da água deles,

a boca ficando um pouco mais seca de admiração.

Como eles admiravam estarem juntos!

Até que tudo se transformou em não.

Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles.

Então a grande dança dos erros.

O cerimonial das palavras desacertadas.

Ele procurava e não via,

ela não via que ele não vira,

ela que, estava ali, no entanto.

No entanto ele que estava ali.

Tudo errou,

e havia a grande poeira das ruas,

e quanto mais erravam,

mais com aspereza queriam,

sem um sorriso.

Tudo só porque tinham prestado atenção,

só porque não estavam bastante distraídos.

Só porque,

de súbito

exigentes e duros,

quiseram ter o que já tinham.

Tudo porque quiseram dar um nome;

porque quiseram ser,

eles que eram.

Foram então aprender que,

não se estando distraído,

o telefone não toca,

e é preciso sair de casa para que a carta chegue,

e quando o telefone finalmente toca,

o deserto da espera já cortou os fios.

Tudo,

tudo por não estarem mais distraídos.


de Clarice Lispector